Mindhunter – John Douglas e Mark Olshaker - Tomo Literário

Mindhunter – John Douglas e Mark Olshaker

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Assassinos em série (serial killers) são representados na literatura, no cinema, na televisão, nas séries produzidas por vários canais. Há quem veja como um fenômeno que ocorre, sobretudo, em terras americanas. Mas não é só lá que eles existem, estão por aí, no mundo todo, e no Brasil. Ilana Casoy, por exemplo, tem um livro que traça o perfil de assassinos em série brasileiros. Fato é que aqueles que cometem crimes em série não são apenas objetos ficcionais, são pessoas reais.

Mindhunter, que carrega o subtítulo de O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano, traz a história de John Douglas, que é assim considerado e assina o livro ao lado de Mark Olshaker. O livro também inspirou uma série de mesmo nome que é apresentada na Netflix. No Brasil, Mindhunter foi publicado pela Editora Intrínseca em 2017 com tradução de Lucas Peterson. Vale mencionar aos leitores que a obra foi originalmente publicada no ano de 1996, nos Estados Unidos.

O autor atuou fazendo análises de perfis e cenas de crimes na Unidade de Apoio Investigativo do FBI, em que foi chefe e fundador. Segundo o autor “para cada crime terrível cometido desde o início da civilização, uma questão profunda e fundamental sempre se apresentou: que tipo de pessoa poderia ter cometido algo assim?” A resposta para esta questão é o cerne da obra e o que o departamento tenta responder com o seu trabalho.

Em Mindhunter lemos sobre as abordagens de crimes reais. Os estudos sobre a mente do criminoso e a forma adotada para capturá-los são expressas pelo autor, com exemplificações de casos verídicos dos quais ele fez parte.

Por meio do traçado de perfis foi possível identificar padrões de comportamento dos criminosos e com isso tomar medidas proativas para capturá-los. Há, comumente, uma tríade na constituição da personalidade dos criminosos em série: crueldade contra animais, enurese (urinar na cama) e a propensão para provocar incêndio. Já havia lido sobre isso em outros livros e aqui há o reforço desse tripé, que sustenta a formação da personalidade e do psicológico de um psicopata.

As descobertas de Douglas na atuação frente ao estudo e elaboração de perfis de criminosos culminou na descoberta de três motivações mais recorrentes em assassinos e estupradores em série, quais sejam: manipulação, dominação e controle. De maneira abrangente, há também na formação desse tipo de criminoso o aspecto fantástico, de fantasia. O autor escreve: “Tudo o que eles fazem e pensam tem por objetivo ajudá-los a preencher suas vidas desajustadas.”

Em Mindhunter aborda-se ainda o fato de que os psicopatas vão aprendendo com sua experiência, mesmo sendo, por natureza, um ser manipulador, narcisista e bastante egocêntrico. Características das quais se valem para contar o que querem a policiais, investigadores, psicólogos, psiquiatras e advogados. Buscam falar o que os outros querem ouvir, ainda mais quando há a possibilidade de sua libertação do sistema prisional.

Naturalmente, ainda há muito a ser explorado na mente humana, o que inclui a mente assassina. O autor cita que “precisamos apenas ter certeza de que estamos aprendendo mais rápido do que eles.” Antecipando o conhecimento sobre o seu modo de agir, será possível reduzir os riscos de novas mortes/abusos.

Para quem lida rotineiramente com esse tipo de criminoso muitas coisas são necessárias. “É preciso ter a capacidade de recriar mentalmente a cena do crime. É preciso saber o máximo possível a respeito da vítima, para entender como ela pode ter reagido. É preciso ser capaz de se colocar no lugar dela enquanto o agressor a ataca com uma arma ou uma faca, uma pedra, seus punhos, ou o que quer que seja. É preciso ser capaz de sentir o medo da vítima quando o criminoso se aproxima...” Entre outras tantas necessidades que o autor menciona em dado trecho da obra.

É preciso também atacá-los pelo lado psicológico, utilizando o método que o autor denomina de “fator cu na mão”.  Objetos, gestos, palavras são usadas para provocar o suspeito a reagir emocionalmente. E, para isso, os envolvidos devem estar atentos a sinais não verbais: movimentos, respiração, transpiração etc.

Cada serial killer tem o seu modus operandi e sua assinatura. O primeiro é o comportamento que o criminoso adquire, algo que pode ser mudado. Já a assinatura é o que ele “precisa fazer para se satisfazer”, e não é algo alterado. No livro o autor aborda casos de assassinos, estupradores e bombardeadores.

Em dado momento do livro o autor cita o Dr. Park Dietz, que atuou com ele em várias investigações. Park diz que “nenhum dos assassinos em série que tive a oportunidade de estudar ou examinar era legalmente insano, mas nenhum era normal.” É um apontamento interessante, pois vê-se que apesar de distúrbios e de seus desajustes, os criminosos em série tem ciência do que estão fazendo. Sabem, inclusive, que os atos que cometem são errados e ilegais, mas para dar vazão a seus interesses sexuais e outros prazeres, escolhem fazer o que fazem. São, portanto, responsáveis por suas ações.

Há vários outros livros que tratam da psicopatia e expõe casos de crimes em série. Mindhunter é um bom livro. Para quem já leu outros tantos sobre o tema, reforça as ações e auxilia a saber mais sobre criminologia e  perfil psicológico/social dos criminosos em série. Além, de trazer um bom texto, que permite a fluidez da leitura sem tornar-se enfadonhamente técnico.

O livro soma conteúdo, pelo fato de que o autor expõe seus casos e sua forma de atuar, bem como nos dá um pouco de sua metodologia (não detalhada como processo, mas focando a abordagem).

A compreensão da mente humana é complexa e os serial killers tem padrões, por vezes, inesperados, o que distancia-se dos sentimentos da maioria das pessoas consideradas “normais”. Veja-se que tais criminosos não sentem compaixão, culpa ou remorso. Mindhunter ajuda a compreender como agem esses assassinos e estupradores, e o que é preciso para quem tem o dever de solucionar os casos e capturá-los.

John Douglas é uma figura interessante, que deixou legado após sair do FBI e, certamente conhece bem a mente assassina. Para quem gosta de criminologia, de psicologia forense ou tem interesse em investigações policiais é um prato cheio. Vale a pena ler!

Mark Olshaker e John Douglas / Foto: Reprodução
Sobre os autores

John Douglas foi o fundador e chefe da Unidade de Apoio Investigativo do FBI, criada em 1980. Ali, ajudou a desenvolver e a estabelecer a prática de análise de perfis para a resolução dos casos mais assustadores envolvendo serial killers nos Estados Unidos. É autor de diversos livros sobre a mente de assassinos e sobre os procedimentos de análise de perfis de criminosos. Douglas se aposentou após 25 anos de serviços prestados ao FBI, deixando como legado uma prática consagrada de investigação.

Mark Olshaker é escritor, roteirista, diretor e produtor. Recebeu um Emmy pelo documentário Roman City.

Ficha Técnica

Título: Mindhunter
Escritor: John Douglas e Mark Olshaker
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-510-0173-8
Número de Páginas: 383
Ano: 2017
Assunto: Investigação criminal

4 comentários:

  1. Esse livro parece ser bem interessante. Estou gostando bastante da série e ansioso pela nova temporada.
    Abraço

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    1. Ben, o livro é bom. Imagino que a série também seja. Preciso assistir ainda. Abraço.

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  2. Eu vi a série do netflix, achei maravilhosa e tô caçando um preço bacana para comprar esse livro.

    Eu não sabia que o livro era de 96, porém sabia que o trabalho do John é a base da minha série preferida, Criminal Minds.

    Eu amo esse tema demais.

    www.thereviewbooks.com.br | @thereviewbooks

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    1. O livro é muito bom, sobretudo para quem gosta do tema. Boa leitura!!!

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