Coma - Carol Dantas - Tomo Literário


Coma, livro de Carol Dantas, foi publicado pela Editora Illuminare em 2017 (218 páginas).

Daniel Rachmanov é comprometido com pesquisas no campo da neurociência. Pesquisas essas que são bastante importantes para os anais da medicina. A pesquisa a qual se dedica começou a tomar forma quando ele participou de uma conferência sobre distúrbios mentais e o avanço da área médica nesse segmento.

O neurocientista é casado com Daisy. Num passeio que o casal realiza, ela sofre um grave acidente de jet-ski. Em decorrência do acidente, Daisy fica em coma e, então, Daniel se une a um  amigo, o doutor em Química  Morgan Edwards. Eles trabalham pesquisando um composto capaz de criar uma outra realidade. Por meio dessa realidade paralela, os pacientes em coma podem se comunicar com as outras pessoas e ter uma vida aparentemente “real” (grifo meu).

“Mesmo solitária aquela realidade enclausurada poderia ser um alívio para aqueles que estivessem sem poder reagir, embora ainda com total consciência. O que se passava de fato com aqueles que ficam em coma ainda era um mistério, mas talvez todas essas mentes pudessem pelo menos manter a atividade cerebral alta até voltarem de fato à vida.”

O composto estudado pelos dois personagens permite que a atividade cerebral dos pacientes em coma “atinja níveis parecidíssimos com os que são comuns àqueles em estado de consciência” e isso pode provocar na mente dos pacientes a criação de uma realidade construída por eles mesmos. É, portanto, criação de uma realidade produzida por suas próprias mentes. Morgan faz a apresentação do referido composto no Simpósio do Instituto do Cérebro e, naturalmente, desperta a atenção da comunidade científica.

Como toda pesquisa focada em ciência, há barreiras que precisam ser  ultrapassadas pelos envolvidos no processo. E algumas atuações dos personagens podem ser questionadas. Posto isso, Daniel e Morgan, acabam camuflando a verdadeira realidade que há no composto que estão criando. Escondem certos detalhes da comunidade científica e acabam se envolvendo num jogo de interesses um tanto quanto controverso. Tudo pode ficar um pouco pior quando um dos pacientes acaba colocando o projeto em risco.

Observará o leitor que tanto Edwards Morgan quanto Daniel Rachmanov, diante do Projeto Coma, colocam questões pessoais envolvidas. O passado e o presente desses personagens impactam, direta ou indiretamente, no modo como conduzem o projeto. Esses atos passados também explicam muito o comportamento social deles e ratificam suas personalidades. Morgan, um experiente químico, tem em seu passado a presença muito forte da emoção nas suas relações e acaba, no presente, sendo muito mais racional no modo de encarar os problemas. Fazendo o contraponto à sua racionalidade, temos Rachmanov que se demonstra muito mais impulsionado pelas emoções.

Com o decorrer do Projeto Coma as questões éticas que são inerentes a quaisquer pesquisas científicas também são colocadas de maneira implícita na abordagem dos envolvidos na experimentação do composto. A avaliação, contudo, caberá ao leitor. A obra de ficção não julga a ação, demonstra-a. Um médico tratar pacientes com quem tem laços afetivos é o ponto central do meandro ético abordado, além, é claro, da transparência em relação a todo o processo do Projeto Coma. Sem dúvida, cabe questionar as ações dos personagens, como mencionado anteriormente. Eles pretendem efetivamente salvar vidas ou estão em busca do resgate de suas próprias vidas, por meio da salvação concedida a pessoas queridas? A medicina, o amor e a ética conflitam na obra.

A história elaborada por Carol Dantas tem, como é possível ver pelas descrições e análises efetuadas, bons personagens e uma trama com reviravoltas que conseguem surpreender o leitor. Em se tratando de personagens, Daniel Rachmanov, que assume o papel de protagonista do livro, é um homem que pode gerar sentimentos contraditórios no leitor. Ele tem uma personalidade que tem dualidades interessantes de serem observadas. É um homem amoroso no trato com sua esposa, é um profissional de excelência, mas também se revela tempestivo e transgressor, quiçá até mesmo imbuído tão somente de interesses pessoais e em dados momentos colocando sua vontade acima de qualquer outra coisa. Daniel consegue ser dócil no seu relacionamento amoroso e com a sua família (quando relatados eventos passados do personagem), no entanto se coloca a carapuça da superioridade em dados momentos de sua vivência profissional. É combativo quando confrontado, no entanto, também esconde detalhes que podem provocar opiniões discordantes de seu pensamento.

Vale colocar em destaque a forma com que a autora trata a realidade criada por meio do composto. A maneira como se constituí essa outra realidade na mente das pessoas que estão sob coma dá ares de ficção científica ao livro. O jogo de poder e interesse em relação ao revolucionário método, também traz à tona o comportamento do homem diante da possibilidade de grandes feitos, capaz de sentir-se um pouco criador, e não somente uma criatura, mesmo que isso coloque vidas em risco. Mas a vida cobra decisões e Daniel Rachmanov terá que tomá-las.

Coma tem uma narrativa fluida e capítulos curtos que dão agilidade à leitura. A obra quando chega a seu desfecho deixa o leitor com aquele gosto de quero mais, o que é um ótimo sinal.

Foto: Reprodução
Sobre a autora

Carol Dantas estuda Construção Civil na Faculdade de Tecnologia de São Paulo. Publicou contos em quatro outros livros da editora Illuminare: Pequenos Escritos, Histórias Sinistras; Crimes & Suspeitos; Tempos de Inocência e Por Trás das Grades. Cria histórias desde os onze anos de idade, mas as mantinha em segredo até que encontrou na escrita seu fugere urbem, após ter aulas de literatura com um mestre que a fez enxerga que a vida podia ser muito mais do que somente contas e fórmulas.
 

Ficha Técnica

Título: Coma
Escritor: Carol Dantas
Editora: Illuminare
Edição: 1ª
Número de Páginas: 218
Ano: 2017
Assunto: Literatura brasileira

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